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Jul
Adis Abeba – Para muitos, o continente africano ainda é visto apenas como uma fonte de recursos naturais e de economias dependentes de suas antigas colônias. Contudo, essa visão está cada vez mais sendo questionada e novas perspectivas para o desenvolvimento africano estão se abrindo, com investimentos em pesquisas no campo da ciência e tecnologia.
Para aumentar a produção científica dentro do continente africano e criar projetos que possam desafiar essa lógica, foi criada a Comissão de Recursos Humanos, Ciência e Tecnologia da União Africana, como sede em Adis Abeba. O órgão, coordenado pelo matemático beninense, Jean Pierre O. Ezi, tem desenvolvido diversos projetos, com o objetivo de contribuir de maneira estratégia para o desenvolvimento do continente e superar os desafios do século XXI.
A primeira ideia que tem sido promovida pelo órgão é a de que, além dos recursos materiais, os países africanos precisam desenvolver, com urgência, seu capital humano para evitar a dependência em relação a outras nações que possuem maiores investimentos em tecnologia. “Nós precisamos de transferência de tecnologia”, alerta Ezi, que antes de assumir o posto na União Africana coordenou o Instituto de Matemática e Ciência da Universidade do Benin. O gestor é responsável por convencer os governos africanos a investir em ciência e poder trazer benefícios importantes e sustentáveis para o países
Dentre os projetos que a Comissão vem desenvolvendo para aumentar a produção de pesquisas sobre ciência e tecnologia nos países africanos, está a Universidade Panafricana, uma iniciativa que promete criar um novo marco para o setor, criando[R1] uma rede de instituições de excelência. “A ideia é criar instituições de pesquisa no nível da Harvard e MIT”, explica Ezi. A expectativa é que a juventude africana possa ter mais possibilidade de estudar e desenvolver projetos no próprio continente, atraindo profissionais dentro e fora da África.
Um problema que essa iniciativa visa resolver é trazer de volta a diáspora africana, sobretudo a diáspora[R2] que saiu da África recentemente e optou, ou foi obrigada, a viver no ocidente pela falta de oportunidades, fazendo parte do fenômeno conhecido como a “fuga de cérebros”. Além disso, a Universidade Panafricana será uma oportunidade para comunidade acadêmica afrodescendente nas Américas contribuir com o desenvolvimento e renascimento africano.
Para concretizar esse objetivo, a estrutura da Universidade Panafricana foi dividida em temas e localidades. A ideia é que em cinco anos a Universidade possa ter campus de pesquisas em cinco capitais estratégicas: um centro de excelência em Água e Energia na Argélia, outro para discutir tecnologia e inovação no Quênia, um especializado em humanidades no Camarões e assim por diante. Os recursos para essa empreitada serão compartilhados entre os países que sediarão as instituições, a União Africana e instituições de cooperação internacional. Cada instituição deve formar em torno de 150 especialistas por ano, em cursos de mestrado e doutorado. Ao todo, são esperados um investimento de 22 milhões de dólares para a concretização da primeira fase do projeto.
Paulo Rogério Nunes, de Adis Abeba, Etiópia para o CORREIO NAGÔ