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Jul
Adis Abeba – O continente africano dá mais um passo histórico na busca pela igualdade de gênero e avanço das mulheres em cargos de poder. Ontem, 15, foi eleita na cidade de Adis Abeba, Etiópia, a primeira mulher para presidir a União Africana, a mais importante instituição diplomática do continente.
A sul-africana Nkosazana Dlamini Zuma é médica de formação, foi ministra da saúde de 1994 a 1998 no governo de Nelson Mandela – sendo a primeira gestora de saúde no pós apartheid – além de ter servido como ministra das Relações Exteriores nos governos de Thabo Mbeki e Kgalema Molanthe. Zuma é também uma militante histórica da luta contra o apartheid.
Criada em 1963 por líderes como Kwame Nkrumah, Haile Selassie e Léopold Senghor, a União Africana nunca havia tido uma mulher em seu cargo principal, isso em um continente onde as violações dos direitos da mulheres é um fato constante, como casos de mutilação genital, violência doméstica e tráfico de meninas.
Desafios
Zuma enfrentou grande dificuldade para vencer essa eleição que teve um forte lobby dos países de língua francesa para a continuação do gabonês Jian Ping no cargo. Ping foi eleito em 2008 e se manteve na importante função até a eleição de ontem.
Os desafios da nova presidente não serão poucos. O continente enfrenta uma nova onda de conflitos e golpes de Estado, como o caso do Mali, onde rebeldes estão destruíndo locais históricos como a Universidade de Timbuktu – a primeira cidade universitária do mundo – e na República Democrática do Congo onde a União Africana planeja enviar tropas para resolver o conflito. Além disso, a disputa entre o Sudão e o Sudão do Sul, que tem como prazo para sua resolução no próximo dia 2 de agosto, está em um momento crítico.
A questão de gênero vem sido cada vez mais pautada por organizações multilaterais e a liderança de uma mulher na UA é um avanço histórico. Em 2005 a presidente da Libéria, Ellen Jonhson Sirlef também fez história sendo a primeira mulher a presidir uma nação africana.
Hoje, o continente tem duas representantes, a presidente Ellen, que se reelegeu em 2011, e a presidente do Malauí, Joyce Banda, que assumiu o cargo após o falecimento do presidente Bingu wa Mutharika, em abril desse ano. Banda era a vice presidente e sucessora natural do cargo.
Nkosazana Dlamini Zuma tem 63 anos é da etnia Zulu e é vista com uma líder competente em seu país e é ex-esposa do atual presidente sul-africano, Jacob Zuma. A vitória da presidente teve como fator decisivo o alinhamento dos países de língua inglesa para apoiar a candidatura frente ao bloco de países de fala francesa.
A nova presidente deixa o atual cargo de ministra do Interior de uma das maiores nações do continente para assumir uma tarefa ainda mais desafiadora, a busca de soluções para a unificação de um continente marcado por disputas territoriais, conflitos diplomáticos e graves violações de gênero.
Paulo Rogério Nunes, de Adis Abeba, Etiópia, especial para o CORREIO NAGÔ.